Ambiente familiar e desenvolvimento infantil.

O ambiente familiar, em especial a qualidade da interação da criança com os pais, é o elemento mais importante para que ela alcance a melhor condição nos quatro domínios do desenvolvimento infantil: o desenvolvimento físico, o desenvolvimento cognitivo, o desenvolvimento da linguagem e o desenvolvimento socioemocional (Fernald et al., 2009; Marin et al., 2013; Naudeau et al., 2010).

Ambiente familiar da criança e desenvolvimento: impactos até a fase adulta.

A relação dos pais com a criança até os seis anos de idade impacta diretamente a performance dela em todas as fases posteriores da vida, praticamente definindo sua trajetória escolar (a criança chega à educação básica na plenitude de sua capacidade de aprender), a qualidade da saúde física e mental até à velhice, os níveis de empregabilidade, produtividade e renda futuros, os padrões de relacionamento social e também  a qualidade das relações familiares futuras (Gulliford et al., 2015; Hair et al., 2006; Heckman et al., 2014; Heckman & Karapakula, 2019). 

Desenvolvimento linguístico dos bebês e papel dos pais.

A capacidade de absorver a linguagem e distinguir sons – isto é, o desenvolvimento linguístico da criança – surge por volta dos 9 meses de idade, muito antes que a criança possa realmente falar, o que indica que é de fundamental importância que os pais interajam verbalmente com as crianças desde o nascimento (algumas pesquisas demonstram que, ainda durante a gestação, o feto já reconhece e reage à voz dos pais, e isso auxilia na formação de vínculos) (Naudeau et al., 2010; PNAS, 2015).

Influência do envolvimento parental no desempenho acadêmico dos filhos.

Diversos estudos têm demonstrado uma associação importante entre o desempenho escolar/aprendizagem dos alunos e o ambiente familiar. A família permanece como instituição fundamental para proteger e socializar o indivíduo, e o envolvimento parental traz impactos positivos para o desempenho acadêmico dos filhos. Conforme dados do Programme for International Student Assessment, estudo internacional realizado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) em 70 países, os alunos cujos pais demonstravam interesse pela sua vida acadêmica obtiveram médias de desempenho mais altas do que os estudantes cujos pais não se envolviam com frequência nos assuntos escolares (Ferreira & Barrera, 2010; OECD, 2015).

Família e prevenção ao uso de drogas na adolescência.

Estudos comprovaram que a funcionalidade da estrutura familiar e a qualidade da educação parental atuam como amortecedores para proteger os adolescentes das influências do uso de substâncias químicas (tabagismo, álcool e drogas ilícitas) (Small, Suzuki & Maleku, 2014).

Suicídio e comunicação entre pais e filhos adolescentes.

Quanto melhor a funcionalidade familiar e quanto melhor é a comunicação entre pais e filhos, melhor é a saúde mental e menores são os índices de suicídio e ideação suicida entre adolescentes e jovens. Segundo a Organização Mundial da Saúde, o Brasil é o segundo país do mundo com maior número de suicídios entre adolescentes e jovens: a cada 45 minutos, uma pessoa entre 15 e 29 anos tira a própria vida (Robila, 2020; OMS, 2020).

Relacionamento com os pais e escolhas de carreira dos adolescentes.

Pesquisas corroboram que os pais representam a maior influência nas futuras escolhas educacionais e vocacionais de seus filhos (Khasawneh, 2010). Além disso, é a partir de uma relação de qualidade com os pais que adolescentes adquirem as atitudes psicológicas e morais que são decisivas para seu sucesso profissional. O apoio dos pais prediz positivamente o interesse pela carreira e a tomada de decisões de carreira entre os adolescentes (Ferry et al., 2000; Paa & McWhirter, 2000; Turner & Lapan, 2003). 

Família e valorização do trabalho pelos jovens.

Os jovens que percebem seus pais como apoiadores são mais propensos a considerar o trabalho como uma área importante de sua vida, procuram posições de liderança em seu campo escolhido e confiam que terão sucesso em sua carreira (Kenny et al., 2003).

Influência mútua entre trabalho e família.

Existe uma correlação de causa e efeito entre trabalho e família: aquilo que uma pessoa vive no contexto familiar afeta sua forma de agir no ambiente profissional, e vice-versa. Assim, quanto melhor a experiência familiar, maior a capacidade de trabalhar em equipe, a produtividade, a criatividade, a capacidade de inovar e de se desenvolver na carreira profissional (Greenhaus & Powell, 2006).

Responsabilidade familiar corporativa e desempenho

 Segundo pesquisa publicada pela IESE Business School, pessoas que trabalham em empresas familiarmente responsáveis possuem um desempenho profissional 19% superior à média geral e comprometimento quatro vezes maior com a organização em que trabalham (Las Heras, 2019).

Competências do século XXI e a família.

O novo mundo do trabalho do século XXI exige novas habilidades profissionais que precisam ser adquiridas pelas novas gerações: capacidade de cooperação, comunicação, pensamento crítico, criatividade, perseverança, comportamento com visão de futuro, inteligência emocional. As relações familiares fortes são o ambiente mais adequado e eficaz para o desenvolvimento consistente e duradouro dessas competências (Dugarova, 2020; ManpowerGroup, 2012)

A qualidade das interações familiares tem maior impacto para o sucesso individual do que as condições socioeconômicas.

A qualidade familiar é o maior impulsionador para as pessoas se darem bem na vida e as novas gerações alcançarem condições melhores que as anteriores. Interações familiares positivas são mais poderosas no sucesso de uma pessoa ao longo da vida do que as características associadas à sua condição socioeconômica original (Whiston & Keller, 2004).

Ambientes familiares e possibilidades de desenvolvimento social.

Crianças provenientes de contextos de condição de pobreza criadas em ambientes familiares positivos apresentaram 80% de chance de, ao longo do tempo, alcançar níveis socioeconômicos mais altos, enquanto aquelas que conviveram em situações duradouras de instabilidade familiar e fragilidade de vínculos foram quatro vezes mais propensas a terminar a vida significativamente mais pobres (Farrell & Gray, 2018).

Família e saúde.

Várias pesquisas documentam conexões entre funcionalidade familiar e condições de saúde:

• quanto melhor a relação do casal, melhor a saúde cardiovascular e menores os riscos associados a ela;
• o envolvimento da família e o suporte emocional que ela oferece são decisivos na adesão do paciente ao tratamento, na adaptação à doença e nos processos de recuperação e reabilitação; 
• a adoção de hábitos saudáveis duradouros é mais consistente quando ocorre a partir da família; 
• os fatores de risco para as doenças não transmissíveis (cardiovasculares, câncer, doenças respiratórias e diabetes) são melhor prevenidos no contexto familiar;
• o suporte emocional e afetivo que os indivíduos recebem na família é determinante para os níveis de sua qualidade de saúde mental e a prevenção de desenvolvimento de transtornos psiquiátricos, bem como para o reestabelecimento após experiências de trauma e crise.

(Dunbar et al., 2013; Robila, 2020; Robles et al., 2014; Trief et al., 2016; Vedanthan et al., 2016)

Vida adulta e qualidade familiar.

Pesquisas em todo o mundo têm demonstrado que, na vida adulta, a qualidade familiar influencia o reforço de valores e a firmeza de caráter, o nível de produtividade e competência profissional, a disciplina financeira, a saúde física e mental e, ainda, a forma como nos relacionamos com as pessoas que amamos (IDF, 2021).

Caráter e sucesso na vida adulta.

As habilidades de caráter (perseverança, motivação, autoestima, autocontrole, consciência e comportamento com visão de futuro), desenvolvidas e reforçadas na família, têm uma preponderância muito mais significativa que o QI e as habilidades cognitivas no sucesso pessoal na vida adulta (Heckman, Pinto & Savelyev, 2013).

Baixa qualidade conjugal prejudica a performance parental.

Casais em conflito constante desempenham as tarefas parentais de forma menos eficaz. Além disso, a vivência frequente de situações conflituosas e não solucionadas entre os pais gera nos filhos sentimentos de tristeza e medo, estando relacionada com depressão, agressividade e problemas de ajustamento (Davies et al., 2009; Feldman, et.al., 2020; Goulart et al., 2015; Scheeren, 2019). 

Impactos positivos da educação conjugal.

Pesquisas revelam que intervenções de educação conjugal resultam em efeitos positivos nos níveis de qualidade da relação do casal, nas habilidades de comunicação entre o casal, no manejo dos conflitos e no comprometimento com o relacionamento. O impacto da educação conjugal também se traduz na redução dos índices de divórcio e no aumento da qualidade do cuidado dos pais para com os filhos (Adler-Baeder et al., 2013; Carrol & Doherty, 2003; Cowan et al., 2009; Hawkins, et al., 2008; Stanley et al., 2006).